Tese de doutoramento chumba impacto do Magalhães nas escolas

Tese de doutoramento chumba impacto do Magalhães nas escolas

Um estudo da Universidade Portucalense realizado junto da comunidade escolar de Matosinhos revela que a integração do computador portátil Magalhães nas atividades letivas locais se saldou num fracasso.

A Universidade Portucalense (UPT) afirma que o estudo, subordinado ao tema “Avaliação do impacto do portátil Magalhães no 1.º ciclo do ensino básico do concelho de Matosinhos”, possibilitou concluir que não existiu um retorno imediato por parte das instituições escolares, que apenas utilizavam o Magalhães de forma esporádica dentro do contexto de sala de aula.

Realizado no âmbito do doutoramento em Educação da UPT, o estudo de João Paulo da Silva Miguel, incluiu 400 alunos, 181 encarregados de educação e 101 professores do 1.º ciclo do ensino básico.

A primeira grande ilação que o doutorando pôde retirar foi a de que o portátil Magalhães serviu mais como um apoio simples e não como um recurso central de inovação pedagógica.

O estudo, concluído em maio, mas divulgado apenas agora por ter sido entretanto sujeito a provas públicas, conclui que 89.1 % dos professores, 84.5% dos encarregados de educação e 86% dos alunos consideram que nunca ou raramente o Magalhães é utilizado nas salas de aula.

O trabalho apontou também razões para esta constatação, até porque também conclui que os professores precisam adquirir e desenvolver competências para poderem utilizar o portátil que foi o símbolo em 2008, do Plano Tecnológico da Educação.

Segundo o mesmo estudo, “os alunos, de forma autónoma, intuitiva e produtiva, foram descobrindo [através do Magalhães] novas competências, como se pode demonstrar pela facilidade na exploração das interligações entre várias realidades mediáticas, tais como jogar, fazer pesquisas, ouvir música ou navegar na internet”.

O autor acrescenta que “houve falta de liderança, envolvimento e incentivo por parte dos diretores dos agrupamentos [escolares], falta de salas apetrechadas com tomadas e com ligação à internet, falta de assistência técnica aos portáteis, que avariam com frequência e facilidade, e falta de modelos/tipos de planificação que integrem o Magalhães nas atividades letivas e nos currículos dirigidos” aos alunos em causa.

Para o autor, o estudo permite, de um modo geral, verificar que o acesso a ambientes tecnológicos, por si só, não é suficiente para o sucesso, uma vez que existe necessidade que a escola forme alunos autónomos, críticos e criativos dotados de capacidade para usarem as tecnologias.

A ideia da distribuição massiva dos Magalhães, com finalidade de democratização do acesso às tecnologias e sua implementação no quotidiano das salas de aula para preparação do cidadão para o futuro, parece estar votada ao fracasso. Existe um longo caminho a percorrer para valorizar o esforço financeiro que foi aplicado e permitir que as tecnologias sejam incluídas de forma transversal nos currículos, surgindo nas escolas do 1.º ciclo de uma forma sistemática e planeada, em vez de pontual e espontânea.

João Paulo da Silva Miguel

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